ENTÃO...
"E pelo amor de Deus, veja nas minhas palavras mais do que minhas palavras."CL

quarta-feira, 4 de junho de 2008
Marcela era uma vizinha estranha do prédio de frente, que um dia conheci pois entrei no mesmo colégio que ela.

Fazíamos o mesmo trajeto de manhã, a pé, até o colégio. Uma pessoa de extremos, ou bem humorada, ou quieta. Mal humorada ela nunca chegou a ser (que eu me lembre) pois a inteligência não a deixava.

Ela havia sofrido uma transformação radical e quando vi uma foto do RG dela, depois de rir muito, percebi que realmente os programas de "antes e depois" podem ser reais. Mas a mudança nesse caso foi por conta dela mesmo e eu sempre fiquei intrigada como foi feita a tão importante decisão. Ela era gorda, usava o óculos mais fundo de garrafa que existia no mundo, não sabia se vestir e era excluída da sociedade. Que eu me lembro (de novo) ela disse que um dia cansou de ser gorda e fez um regime. E realmente essa nunca mais engordou! Os óculos melhoraram e o estilo também.

Uma época trocávamos cartas via correio (sim, nós íamos na mesma agência de correios e enviávamos cartas uma para a outra sendo que morávamos em frente) e em uma delas, ela dizia que tinha que se ler O ESTADÃO para ter conteúdo.

Ela era a única aluna do Objetivo que prestava atenção nas aulas com afinco e com ela eu comecei a achar bonito a gostar de estudar - e sem levar a impressão de nerd. Ela ensinava História e Geografia de uma forma que era legal aprender e por isso sempre achei que ela tem vocação para ser professora.

Marcela era tão superior às modinhas das pessoas da sua idade que não se importava de ficar o Reveillón passando roupas (e depois ainda ganhava um muque de tanta força que fazia como "do lar"). Ela era mãe da mãe dela, e do irmão também.

Eu tinha receio de ir na casa dela, pois a mãe dela era um pouco bipolar e o irmão fazia brincadeiras que me dava medo. Ela lidava com tudo isso muito naturalmente e eu achava incrível, pois ela nunca tinha feito terapia.

Entende de política mas graças a deus não fala disso sempre que tem uma conversa.

Ela não entendia nada de computador, achava que o email da BOL era para poucos privilegiados e que nunca seria uma pessoa atualizada informaticamente - hoje é.

Logo que tirou carta, ela tinha que ouvir Enya quando estacionava o carro novinho para não se stressar com a pressão - e a garagem dela realmente era bem difícil, provavelmente eu ficava mais tensa que ela. Se ela raspasse o carro também, não tinha galho.
Ela me apresentou à música mais legal do Kid Abelha "La Nouveaute" e até sabia francês - mas inglês não era mesmo com ela - hoje também é.

Ela nem sempre conversa com palavras, mas sempre é confortante tê-la por perto.

Com ela eu aprendi as vantagens de não se ter um peito grande e ela parecia um pouco complexada, mas não acho que ela colocaria silicone um dia.

Fez ciências sociais mas teve que se render aos trabalhos que pagam bem, mesmo não sendo tão interessantes e/ou exploradores (mas um dia você consegue Marchel!).

Hoje ela mora na sua própria casinha, tem marido (um pouco estranho, nunca ouvi a voz dele) e até cachorro.

E é tudo isso que faz da Marcela uma pessoa que eu gosto.


Posted by Pat Fonseca at 21:55 |

7 Comments:

At 5 de junho de 2008 às 01:55, Anonymous Anônimo said........
Pateeeenha! muito legal! realmente vocÊ escreve mto bem. Consegui imaginar cada detalhe e visualizar a Marcela mesmo antes de ver a foto. Saudade sua! beijos
 


At 5 de junho de 2008 às 04:42, Blogger Marcela said........
Ai ai!!! Patricia como é que você faz uma coisa dessas comigo?
Senti-me completamente nua diante desse PC.

Como você pôde lembrar de todas essas coisas e escrever de um jeito tão batuta que me deixou com sorisos e lágrimas ao mesmo tempo!?!?!

Lembrei das tardes a fio que passava na sua casa. Te vendo usar o computador e ouvindo (na verdade aprendendo a ouvir) Alanis. òbvio que nesse interim eu assaltava sua geladeira.

Diferentemente do ambiente a minha casa o seu era ótimo. Era cult. Eu ficava olhando os livros e os Cds e toda a tecnologia (o bom e evlho mail do bol) e queria viver assim também. Gostava quando sua mãe chegava... E não entendia porque sua irma tinha o mesmo nome que eu...

Ai que delicia... bons, alias, otimos e velhos tempos.

Ps: no quesito "antes e depois" sabe que a pati japa não queria ir comigo pra escola quando eu cheguei no Biju. (hahahaha) Eu era brega ela nao podia ser vista com alguém de blusa de lã marrom, calça de lycra verde, tenis laranja e os mencionados óculos. Compreensível, não?!

To indo dormir, pati do além mar, certamente pensando n´ocê e nos tempos que não voltam! =)
 


At 5 de junho de 2008 às 13:15, Anonymous Anônimo said........
Paaat,

Fantástico o texto!!

é... essa é a Marcela...

Eu só queria acrescentar que ela queria dançar funk (não os cariocas, os gringos mesmo) ela era RVTS (sigla para revolts que queria dizer revoltada). E ainda que ela é mãe da mãe e do irmão, e que muitas vezes é minha também. A Marcela é a típica amiga com que você pode desmontar que ela segura a onda para você!

Beijos àa duas!

Ju
 


At 5 de junho de 2008 às 14:48, Blogger Denise said........
Pateenha,
MUITO lindo!
VOCÊ É DEMAIS!
Sempre surpreendendo!!!
SAUDADES!!!!
bjss
 


At 6 de junho de 2008 às 04:45, Blogger alex hoera said........
pateeenha querida! amei seu blog! queria poder escrever também, adorei seu estilo, mas eu acabo fuçando de galho em galho e matando a saudade das pessoas queridas mesmo de longe, adorei! foi como bater um papo contigo! grande beijo... e vai me visitar no meu tb, jajajaja... :) ah, by the way, sua amiga, gatíssima e uma pessoa admirável, né? gostei...
 


At 6 de junho de 2008 às 17:14, Anonymous Anônimo said........
PRIUMA!!!!!!!!
HHAHAHA ACHEI DIVERTIDÍSSIMO ESSA SUA NOVA IDÉIA... QUERO SÓÓÓÓÓÓÓÓ VER O Q VC VAI ESCREVER SOBRE A MINHA PESSOA!!!!!!!!!!
TE AMO NEUGA!
 


At 7 de junho de 2008 às 15:17, Anonymous Anônimo said........
Pat!!!!!!!!!!!!!!!!!
Nossa q barato, vc é muito boa nisso, acho q vc tinha q ser escritora... hahahha
E ai, menina, como estão as coisas?
saudades!!!!!
bjokas